segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Eu uso isso aqui pra brincar. Mas cansei de brincar. Porque o mundo não tá brincando com a gente e acho que tá mais que na hora de abrir a boca e gritar na cara de quem não nos respeita.

Ontem, tava esperando na parada do ônibus, e passaram dois caras em uma moto e mexeram comigo.
Eu sempre fui muito quietinha, muito envergonhada, muito de achar que deixa pra lá, que é melhor ignorar. Mas vivi nos últimos anos várias situações abusivas (sem percebê-las como tal) e cheguei à conclusão de que eu não posso deixar as coisas como elas tão e me fazer de louca porque é mais fácil.
Logo, passaram esses caras e o quê eu fiz? Mandei eles longe. Pode não ter sido a melhor resposta, mas era a maneira possível de eu me impor naquele momento. Tu acha que teria condições de esses caras descerem da moto e a gente ter uma conversa sobre respeito, sobre violência? Se, por um acaso, eles descessem, seria pra, no mínimo, me xingar.
Não satisfeitos de passar uma vez, eis que os vejo voltando, dessa vez três homens em duas motos. E passaram pra gritar comigo. Me chamaram de gorda (nossa, parabéns, vocês não imaginam como as minhas gordurinhas tão chorando agora), de vagabunda, me mandaram longe e várias outras coisas que não consegui distinguir em meio à enxurrada de xingamentos.
E o que eu fiz dessa vez? Nada. Porque eu tenho medo. E fico pensando quantas vezes, pra revidar de uma agressão, a gente tem que correr, fugir com medo.

Mas, então, o ponto que eu quero chegar com tudo isso é nessa violência mascarada de "elogio".
Caras, vocês precisam perceber que não, não é legal, ser olhada, julgada e comentada na rua. Vocês passam do limite da boa convivência (pra não dizer de outras coisas) quando invadem o meu espaço e o meu direito de tá lá, na rua, pegando o meu ônibus, ou tomando a minha cerveja, ou fazendo a porra que eu quiser, assim como vocês.
É sobre aquela velha máxima de o teu limite de liberdade ser o início dos meus direitos.

Mas essa situação de ontem aconteceu porque eu não concordei com as atitudes deles. Porque eu me impus contra os donos do mundo. Se eu tivesse baixado a cabeça, eles teriam ido embora rindo satisfeitos por o mundo ter feito mais uma bostinha quietinha. Eles voltam por se sentirem ofendidos (????). Eu ofendi o direito deles de objetificarem e assediarem mulheres? Eu ofendi eles por não ter me calado perante a violência?

E, ah, caras, vocês aí que tão passando agora numa parada de ônibus qualquer e gritando pra uma mina sozinha, deem uma olhadinha nisso.


É uma merda que a gente tenha que passar por isso tantas vezes e que algumas de nós tenham naturalizado isso e achem que somos loucas. Mas desejo a todas nós que sempre tenhamos forças pra mostrar um lindo e grande dedo-feio nessas situações.

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